A Seiva Trupe Teatro Campo Alegre e o Rui Rio



Opinião Profª Isabel Pires de Lima. Jornal de Notícias 20|10 | 2013

“Um gesto mesquinho de um homem infeliz"

“Rui Rio foi sempre um autarca que pensou pouco e em pequenino a cidade e quando a pensou fê-lo de um modo infeliz. A palavra mesquinho tem a sua origem etimológica no árabe, miski, que significa pobre, infeliz. 
Só alguém que vive mesquinhamente e que olha para a vida com uma alma dominada pela infelicidade pode escolher como um dos últimos atos da sua gestão autárquica expulsar “heroicamente”, pela calada da noite, um grupo de teatro com décadas de continuada atividade na cidade, como a Seiva Trupe, das instalações de um teatro propriedade da autarquia. 

A justificação para a expulsão é legal, claro está, até porque Rui Rio é um homem da legalidade, incapaz de pensar fora de certos quadrados da lei, de pensar para além da lei – confunde isso com pensar fora da lei, como é típico dos espíritos falhos de imaginação. A Seiva Trupe está atrasada nas suas obrigações para com o senhorio; não pagou atempadamente a renda à Câmara, expulsa-se, executa-se o despejo envergonhadamente, longe do olhar dos cidadãos. 

Não preciso recordar, ou melhor precisaria de recordar ao Dr. Rui Rio se ele estivesse predisposto a ouvir, o persistente trabalho teatral da Seiva Trupe no Porto, não apenas ao nível da manutenção continuada de uma programação teatral, em certas épocas quase solitária na cidade, mas também ao nível da formação de atores, da encenação de peças de escritores portuense e/ou com temáticas incidentes sobre o burgo, sem esquecer a criação e sedimentação do FITEI, Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, com uma destacável força mobilizadora de públicos. 

Má consciência, dissimulação, falta de frontalidade, tudo traços que se conjugam bem com ressentimento. A frontalidade de Rui Rio esgota-se nos discursos. Para além do referido comportamento revelar uma total incapacidade de perceber o que é serviço público no campo da cultura. A cultura dele é a dos números sem almas dentro; é a do gestor de sucesso 
contentinho consigo porque na folhinha do Excel tudo bate certinho, sem ser preciso tirar a prova real às contas, isto é, sem que importe ponderar que custos as contas certas têm na qualidade de vida dos portuenses. 

A cultura sempre incomodou Rui Rio. Não lhe bastava ser individualmente inculto, como abundantemente fazia questão de demonstrar ao longo dos 12 anos em que esteve à frente da autarquia, primando pela ausência nos espaços culturais da cidade; quis ser ativamente inculto, comprazendo-se em destruir o tecido cultural da cidade, mostrando-se um ressentido em relação àquilo que não entendia, excluindo em lugar de integrar aquilo que percecionava como diferente. 

Este seu gesto final é bem de um ignorante que sai, fazendo o que julga ser uma bela faena. Não aprendeu nada o Dr. Rui Rio. Sai tão inculto como entrou e vangloria-se disso. Vangloria-se do retrocesso a que forçou a cidade no campo da cultura com mais este gesto mesquinho e infeliz. Gesto, ainda por cima, inconsequente, porque nos próximos anos, com novos esforços dos portuenses e da nova edilidade, incluindo imagine só, renovados esforços financeiros, Dr. Rui Rio, o Porto da cultura irá ser reposto. E seremos mais felizes, incluindo o Sr., mesmo que não se aperceba disso."

Isabel Pires de Lima 
(Professora da UP)
Publicada Jornal de Notícias 
20/10/2013

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